quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A poesia não serve para nada #8

FERIDA


Como se um mapa te desse
a intenção desse corpo.
Vi que corrias pela região
demarcada e um nome
ao vento talvez o teu.

A balança de uma seara
punha pesos em redor.
Um riso assustado
quando a seiva era a imagem
mais parecida.

Ou esse sangue novo
a lembrar-te a caçadeira
na parede, o orgulho
de uma ferida, os sonhos
povoados de animais voadores.

Um deus passeava
entre corredor e janelas
e o sono antes da escola
adivinhava tudo
desse mapa, dessa ferida.


Helder Moura Pereira (1989), Carta de Rumos, Lisboa, & etc, p. 12.